segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

NÃO IMPORTA MAIS

Luciano fora dormir em êxtase. Além de uma transa deliciosa, com uma mulher que há meses desejava, jamais imaginava que tudo seria envolto num simples "sem perguntas". Como poderia ser isso? Quais motivações ela teve? O que ela havia gostado nele? Como seria encontra-la novamente nos corredores do supermercado? As perguntas fervilhavam em sua mente ao mesmo que as cenas de sexo e daquele corpo o deixavam a olhar para o teto do quarto sem vê-lo.

Colocou "I Ain't No Nice Guy", do Motörhead, no som, para tentar relaxar. Não conseguiu. Andou de um lado para outro no quarto. Uma cerveja, um olhar pela janela do apartamento. Amanhecia, quando seus olhos não suportaram mais e, enfim, adormeceu.

Não havia espaço para outro pensamento naquela manhã. Mal conseguia alimentar-se, mal conseguia caminhar, mal conseguia dirigir até o trabalho. Pensamentos desordenados, perguntas e mais perguntas. Estaria apaixonado? Ela era casada e nisso estava uma barreira intransponível para ele.

Passam-se 20 dias e não a vê. Havia perguntado para colegas do outro turno e confirmaram que ela vinha pela manhã, quando ele não estava. Pensou em circular por lá, mas seria óbvio demais. Afinal, ela disse "sem perguntas". Naquele dia ela aparece fazendo o seu trabalho nos corredores do supermercado. De longe Luciano a vê, mas Francy parece compenetrada e nem olha para o lado. Como resistir?

- Oi.

- Oi Luciano, como vai?

- Bem e você?

- Estou ótima. Muito trabalho como sempre.

- Eu queria... Ela o interrompe com um gesto como que pedindo silêncio.

- Sem perguntas!

Com aquele sorriso simpático e cativante de sempre curva-se e continua seu trabalho. Ágil como de costume, logo levanta-se e vai embora. Ele está definitivamente sem saber o que fazer. De qualquer forma toma uma decisão: "Não vou ficar nessa!". Assim, como quem passa uma borracha parte para a noite, porque era sexta-feira e os amigos haviam combinado a cerveja de sempre. "Quem sabe pinta uma gata diferente hoje..." pensou enquanto caminhava aliviado consigo mesmo para atender suas responsabilidades.

Aquela experiência passou à uma mera lembrança. Afinal, havia conhecido uma garota através de amigas de sexta-feira e começara a gostar dela.

Era segunda-feira e o dia começara tranquilo. Dava aquelas ajeitadas no apartamento pra diminuir a bagunça do domingo. A namorada saíra cedo e Luciano limpava com o ânimo que o dia proporcionava, sem qualquer compromisso com nada. Era 11h21 quando o interfone toca. Era ela... "Meu Deus! O que faço agora? Numa segunda-feira?" pensava contando o tempo que levaria para chegar ao seu apartamento. "Preciso de um banho! Louco, acabei de tomar". Quase em pânico a campainha toca. Segura a maçaneta, respira fundo e abre. Seu coração bate forte. São dois segundos eternos em que olham-se até que ela sorri levemente.

- Posso entrar?

- Ah, puxa, desculpa... Você me deixa nervoso!

Ela estava linda com aquela calça jeans, sandália a mostrar seus pés, uma blusa insinuando a silhueta do sutiã, cabelos presos, brincos pequenos, lábios com uma batom discreto e aquele perfume inebriante. Entra, enquanto ele facha a porta lentamente observando seu pescoço. Desta vez ele se recosta na porta com as mãos para trás. Francy para no meio da sala e se volta com um sorriso maroto, olhos brilhantes, com as mãos à frente segurando uma bolsa pequena.

- Luciano...

- Francy...

Silêncio! Ambos fitam-se e sorriem. Respiração ofegante, impossível de ser contida.

- Vais ficar aí na porta?

- Sim. Há umas perguntas que quero fazer.

- Faça.

Alguns segundos se passam enquanto ele não consegue coordenar os pensamentos. Lentamente se afasta da porta e vai em direção a ela...

- Sem perguntas. Não importa mais... Diz enquanto suas mãos a seguram pela cintura.

Puxa-a para si e a beija loucamente. Ali, com um universo de tesão incendiando-os, suas roupas desaparecem e entregam-se ao sexo quente, depravado, sem limites, com força, com gemidos, molhado, intenso como somente o mistério poderia fazer surgir.