domingo, 29 de setembro de 2013

AO SOM DA PRIMEIRA VEZ

(Continuação de A DOIS PASSOS DO PARAÍSO. Se quiser ler do início: ERA TODA CERTINHA)

Chega sexta-feira. São 22h42min e ele sabe que Vera já chegou da faculdade. Está ansioso, conta os segundos para receber uma ligação, sente-se perto demais, ao alcance das mãos. Pra tentar relaxar escolhe Marina Lima pra curtir. Toma um banho quente, faz o contorno da barba, perfuma-se de corpo inteiro, abre o roupeiro e pega a roupa que comprara para aquele momento. Um momento que, sequer, tinha certeza que aconteceria. Estende na poltrona do quarto, deixa cair a toalha no chão e percebe-se como que sonhando, temendo e tendo certezas ao mesmo tempo. Afinal, se ela disse que estaria sozinha é porque quer mais que um almoço no shopping. Seria hoje, seria amanhã, seria domingo? A semana foi a mais longa de sua vida. Mal conseguira trabalhar. Tampouco ligara para os amigos. Errou em quase tudo que fez e sem saber o que dizer aos clientes.

Vera chega da faculdade, toma um banho demorado, depila-se tranquilamente, trata dos cabelos com muito cuidado e observa-se no espelho enquanto cobre-se com a toalha. No quarto joga a toalha, está de frente ao enorme espelho. Entre a vaidade de um corpo perfeito e a insegurança de um primeiro momento eis uma mulher, cujo coração bate forte, intenso, iluminado pela luz do abajur. Coloca The Corrs no som e curte Only When I Sleep dançando nua como se estivesse levitando, de olhos fechados para embalar um sonho, na ponta dos pés, imaginado-se nos braços de um homem pela primeira vez... A deusa dos sonhos de um homem.

Joga-se na cama... "O que ele estaria fazendo agora?'' Murmura enquanto rola "what can i do to make you love me?". Veste uma calcinha de rendas e canta...

"love me, love me... No more waiting, no more aching. No more..."

Hélcio não suporta mais. É meia noite. A ansiedade o devora. Em meio aos medos de espanta-la e a vontade de jogar-se loucamente ele olha o aparelho querendo que toque... E toca. Em uma fração de segundos ele atende.

- Vem!

- Vou!

Um coração quase a explodir toca a campainha. A porta se abre lentamente. Por alguns segundos ele a contempla, parado. Vestido preto um pouco acima do joelho, alças finas, cabelos soltos, sandálias de tiras a mostrar os pés mais lindos que ele jamais havia visto. Quando diria de sua beleza ela faz sinal de silêncio e estende uma das mãos. Gentil e lentamente ele a toma pela mão e entra. Nada dizem, seus olhos falam intensamente.

Ela o leva para o centro da sala, coloca suas mãos em seu peito e as eleva até que esteja abraçada. E começam a dançar bem lentamente. Hélcio a segura pela cintura, coloca o rosto a sentir seus cabelos e se embriaga com aquele perfume delicioso. Naquele momento ele entende a mensagem: ''ela quer me conduzir''.

A música e a paixão os fazem esquecer do mundo à volta. Com olhos brilhando ela o beija no canto da boca e vai beijando até que suas línguas se encontram, enquanto abre sua camisa e com firmeza inesperada está a beijar o peito dele. Suas unhas quase o arranham. Sem que perceba ele está de costas para o sofá e ve-se sendo como que arremessado para trás. Cai sobre o móvel completamente dominado por uma menina.

Com olhar direto em seus olhos, Vera, começa a dançar e a despir-se. Tira uma alça, tira a outra, sem que o vestido caia. No balanço da música o vestido cai... A fera, domadora, estava oculta. Estava à espera de um homem que a fizesse surgir do mais obscuro de uma pureza que ela acabara de admitir, não era sua. Aquela menina não queria ser santa, não queira a castidade que impunha a si mesmo em nome de alguma coisa que nem sabia o porquê. Estava ali, completamente livre daquela que ela mesmo criara. Sim, queria abrir suas pernas e possuir aquele homem. Queria ser domada, queria ser submetida ao seu sexo. De dominadora a dominada, de pegadora a submissa, de ativa a passiva... Queria tudo daquele homem!

Vestindo apenas uma calcinha minúscula ela coloca um dos pés no peito dele, fazendo-o sentir a dor do salto da sandália. Senta-se sobre suas pernas e começa a cavalgar, sentindo o volume entre suas pernas enquanto ele beija seus seios. Desce e retira suas calças para suga-lo com uma intensidade que ele ainda não havia experimentado. A vontade dela refletia cada dia de espera.

Enlouquecido de tesão ela a pega pela cintura a coloca deitada no sofá retirando sua calcinha. Começa a beijar seus pés até chegar à sua xana, onde delicia-se percorrendo cada detalhe com sua língua. Deitado sobre ela, beijando-a intensamente e vendo-a contorcer-se de prazer a penetra.

Aquele momento segue entre amantes até quase ao amanhecer, quando adormecem cansados, apaixonados, mergulhados em prazer.

Silêncio!


domingo, 22 de setembro de 2013

A DOIS PASSOS DO PARAÍSO

(Continuação de RECONCILIADO CONSIGO MESMO)

Verinha havia passado o restante da semana com coração batendo forte, sem conciliar os pensamentos, sem concentrar-se nos estudos, em conflito sobre o quê fazer diante de algo tão forte. Ficara impressionada com aquele homem. Havia algo nele que a atraia. Das muitas fantasias que fizera nenhuma incluíra um encontro no estacionamento da faculdade, tampouco que tinha aquela aparência. "Seria demais imaginá-lo com exatidão...'', falava para si em meio a risos.

Sentiu vontade de revê-lo. Para tanto, movida da mais absoluta cautela, arquitetou um plano. Partira do fato que ele poderia ser mais um desses caras sem qualquer princípio, de maus hábitos e que queria apenas usa-la, brincar com ela. Poderia ser até um sequestrador, estuprador... Enfim, o mal em pessoa. Mas como saber suas verdadeiras intenções? Se era solteiro não perderia a oportunidade de festar num sábado à noite. Assim, decidiu telefonar à meia noite, pois estaria apenas começando uma bebedeira, por exemplo. Antes, porém, tratou de bloquear a identificação do número de seu celular.

Tremia ao ouvir o ''alô''. Não sabia ao certo o que dizer. Numa fração de segundos lhe ocorreu de dizer apenas ''sou eu''. Assim, se houvesse mais alguém ele poderia deixar-se enganar, denunciando-se.

- Meu Deus! Você ligou... Espera vou desligar a TV.

- Tá.

- Eu estava em dúvida se ligarias. Achei que fui tolo, que fui ridículo. Afinal, que louco faria aquilo em plena avenida? To nervoso! Como você chama?

- Luiza.

- Puxa... nem sei o que dizer exceto que você é linda!

A conversa se seguiu por alguns minutos. Sem que ela falasse muito. Queria senti-lo, queria perceber sua voz, queria que ele se mostrasse ao máximo. E assim, fez por alguns finais de semana com uma condição: não aparecer na faculdade. Queria apenas conversar. Se ele respeitasse suas condições seria um bom sinal. Com isso ela foi amealhando detalhes para que se sentisse segura e tivesse certeza de quem ele era.

Sabendo um pouco mais a cada ligação, sem jamais perguntar sobre esposa ou sua vida pessoal deixou que o papo fluísse. Num dia, durante a semana, resolveu ligar para seu trabalho, um teste, entre tantos que havia arquitetado. Afinal, estava atraída, mas não poderia agir de forma irresponsável.

- Por favor, gostaria de falar com a esposa do sr. Hélcio.

- Desculpe, mas ela não trabalha aqui e acho que eles estão separados. Disse a atendente.

Sentiu-se ainda mais segura de seus propósitos a ponto de dar seu nome verdadeiro para ele. Estava cada vez mais interessada naquele homem que parecia ser gentil, educado, alegre e maduro. Também passou a ouvir mais as colegas de faculdade sobre suas aventuras. Nenhuma manteve relacionamento com o da primeira transa. Apenas uma prima de sua idade ainda namorava o primeiro, mas também não era uma pessoa que a inspirasse. Foram dias intensos de muita observação. Porque estava decidida em se entregar, mas queria algo singular, não queria um guri inexperiente e afoito. Seria Hélcio?

Quanto mais o tempo passava mais Verinha o desejava. O próximo passo seria reencontrá-lo pessoalmente.

Como se tornara um costume telefonar no sábado resolveu não ligar, deixando para o domingo. Era 11h17, quando fez contato. Ora, um homem que tivesse algum compromisso com outra mulher não estaria disponível para um almoço em menos de uma hora.

- Oi, aconteceu alguma coisa? Você está bem? Perguntou Hélcio mostrando cuidado.

- Sim, estou. Vou almoçar no shopping. Vamos?

Novamente ela o surpreende. De tão arredia, de nem ao menos dar seu telefone, esse convite o deixa totalmente desconsertado. Com esse teste derradeiro estava convicta de que não se tratava de um homem atrás de uma amante ou algo parecido. Tinha conferido sobre seu trabalho e um pouco de seus hábitos sociais. Um festeiro não estaria em pleno sábado em casa. Contudo, seu coração estava dividido entre apenas conhecer o sexo com alguém diferente e assim ter um momento como suas amigas não tiveram, e ter um romance. Por sua vez ele sentia cada vez mais o peso da idade dela. Em alguns momentos pensava que seria uma maldade, pois deveria estar com rapazes de sua idade. ''Puxa, ela tem um ano a mais que meu filho. Poderia ser a namorada dele!'', pensava angustiado.

Ambos nervosos, encontraram-se conforme combinado. Alegres assim que começaram a relaxar, a conversa flui. Falam mais de suas vidas, dos estudos, do trabalho, das famílias. Hélcio está surpreso com a maturidade da menina. Enquanto ela fala ele observa aqueles lábios pequenos, as mãos suaves com unhas bem cuidadas e pintadas apenas com esmalte incolor, a pele perfeita e sem maquiagem, seu perfume doce, o modo discreto como se veste, o penteado simples e bem feito, os brincos pequenos e o sorriso... Ah, o sorriso dela. Que encanto.

Vera está gostando do olhar firme dele. Enquanto fala ela observa seus gestos. Seu bom humor é flagrante, sorriso largo, roupas despojadas sem querer impressionar, mesmo a calvície é simpática, seus assuntos são muito bons. Sabe que ele a deseja, mas percebe que não a olha como se a quisesse devorar. Há respeito. Sequer a tocou no braço ou, como alguns rapazes que vão logo pegando pela cintura. Não, ele apenas mantém-se próximo a ponto dela sentir seu cheiro de homem. Sua experiência é fascinante, pois fez muitas coisas que ela nem imaginava e que ao vê-lo comentar sentia-se atraída.

Ao se despedirem Hélcio a olha demonstrando, enfim, sua vontade de tocá-la. Vera percebe e também quer abraça-lo e beijá-lo. Todos os receios dela haviam sumido, pois somente um homem plenamente livre almoçaria com uma mulher em meio a tantas famílias num shopping. Somente um homem interessante seria cumprimentado por outras pessoas sem constrangimento algum. Casais vinham conversar. Que mais sinais ela precisava? Nenhum!

Naquela noite ela telefona, permitindo que ele saiba do número de seu celular, para dizer que gostou do encontro. Ele não esconde mais seu desejo e se declara apaixonado.

- Estarei sozinha no próximo final de semana...

(Continua)

RECONCILIADO CONSIGO MESMO

(Continuação de QUE MICO EU TO PAGANDO)

Hélcio acorda-se com o telefone tocando. Era seu filho querendo saber se iriam dar uma caminhada no final daquele sábado. Combinaram a hora e o local, sem muito mais. Despertado, levanta-se e vai lavar-se como de hábito. Diante do espelho passa a lembrar-se da semana e do que fizera para rever e falar com aquela menina. Um filme vem à sua mente, emoções diversas: ri de si mesmo, pergunta sobre sua própria sanidade, vê o tempo em seu rosto.

Estava havia quase um ano sem apaixonar-se. Sequer tinha namorado ''firme'' como pessoas de sua idade costumavam falar. Algumas marcas estavam muito fortes. Seu relacionamento de anos sucumbiu diante da traição de sua esposa. Da raiva para o desespero e, finalmente, começara a entender que ela apenas fora buscar a atenção que ele não dava. Por anos dedicara-se ao trabalho e não via nela uma amante, não via nela o seu tesão. Enfim, teve que assumir que não tinha como cobrar absolutamente nada porque teve vários casos paralelos ao casamento. Sua mulher não havia se vingado como elas costumavam falar. Ela apenas queria sentir-se amada. Queria sentir-se desejada e sentir o tesão da juventude.

Relutante, querendo reparar o pouco dos erros do passado, pega o telefone e liga para ela.

- Eu sei que errei contigo e não peço nada além de perdão. Reconheço que fui ruim para você e espero que estejas muito bem em sua nova vida.

Clarisse o ouve em silêncio. Havia sete ou oito meses que não se falavam. Ele se despede sem que dela nada ouça. Foi silêncio absoluto quebrado apenas por um ''obrigado'', com tom de espanto, ao final da ligação.

Chegando da caminhada que tivera com seu filho, colocada a conversa em dia, dadas as muitas risadas que costumavam dar com as coisas do dia-a-dia, voltou para casa. Era 19h32 quando olhou o celular ao entrar. Toma um banho, sente-se satisfeito por ver a casa limpa e por ter tido um dia muito bem aproveitado. O fato novo, sentindo-se bem por estar leve com o pedido de desculpa para com sua ex, decide ficar em casa, mesmo sendo um ''dia de festa''. Coloca Dizzy Gillespie no som, estende a toalha, faz um café, aquece o leite e coloca fatias de pão integral para torrar para comer com requeijão. Enfim, um lanche tranquilo, reconciliado consigo mesmo e com um copo de suco de pêssego, dá um suspiro de satisfação.

Da locadora trouxe alguns filmes e, atirado na cama, assistiu-os quase sem parar, exceto para abrir uma cerveja e preparar um petisco de queijo e pepino em conserva. O celular toca, sem numero identificado. ''Telemarketing à meia-noite?'', pensou.

Não! Era ela...

(Continua em A DOIS PASSOS DO PARAÍSO)

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

QUE MICO EU TO PAGANDO!

Continuação de ERA TODA CERTINHA.

Dias intermináveis se seguiram àqueles dois momentos em que ambos surpreendem-se um com o outro. A imaginação, quase incontrolável, mistura-se com o medo da rejeição e de não mais se verem. De um lado uma menina doce e inexperiente. De outro um cara maduro, experiente e igualmente inseguro. Até para as motos mais improváveis, nas esquinas mais improváveis, nos horários mais improváveis, ambos olhavam em busca do reencontro.

Hélcio passou a pensar no que fazer. Dentro das possibilidades estava que ela poderia fazer faculdade. Ora, quantas haveria numa cidade de quase 190 mil habitantes como Itajaí? Nunca imaginou que se preocuparia em saber disso. Contudo, esse foi seu plano A. Depois, caso não desistisse dessa insanidade, faria um B.

Naquela semana ficou três noites seguidas no estacionamento da Univali. Tinha que começar pela maior. Chegava às 18h40, esperando a onda de motociclistas até por volta das 19h15. Eram 35 minutos achando-se ridículo, querendo desistir, olhando o celular ou ligando para um amigo para passar o tempo que lhe pareciam horas. Quando prepara-se para ir embora naquela quarta-feira é abordado por dois dos vigias. Sua atitude chamara a atenção da segurança do Campus. Constrangido, conta a verdade. Os caras riem, pedem se pode mostrar seus documentos, e falam com firmeza para que não voltasse.

Naquele dia ela não tem as primeiras duas aulas. Mas decidira chegar um pouco antes para as cópias de livros para as provas de semana seguinte. Nos intervalos, ou um pouco antes das aulas o ''xerox'' era sempre muito disputado. Portanto, aquele período seria ótimo. Ao estacionar não dá atenção ao que se passa. Era apenas mais um motociclista conversando com os amigos da segurança, pensou. Afinal, vigia com moto não faltava. Está distraída com a rotina dos mesmos movimentos, dia após dia, naquele local. Guarda o capacete debaixo do banco, confere os cabelos no espelho e confere se há alguma chamada no celular.

Ao virar-se para seguir à biblioteca toma um susto. Está de frente com um homem que sorri para ela. Não o conhece, não o reconhece. Nunca tinha visto, achava. Um meio segundo de hesitação e ele estende uma rosa.

- Desculpe, eu não sei o que dizer. Sou o motociclista que...

- Eu sei quem você é! Ela o interrompe, olhando a rosa.

Movida da mais absoluta insegurança não o olha nos olhos até que resolve pegar a flor. Com movimentos leves leva-a ao rosto, sente seu cheiro suave, fecha os olhos e agradece. E agora? O quê fazer? O quê dizer?

- Obrigada pela gentileza. Agora tenho que ir.

- Tudo bem. Não quero atrapalhar. Fala com voz um tanto embargada, estende um cartão de visitas, dando um passo para o lado para que ela seguisse.

Verinha se vai sem dizer um ''tchau''. Neste momento o mundo desaba em sua cabeça. Sente-se o pior dos homens. Tem a impressão que a torcida do Flamengo está olhando e rindo de sua cara. "Que mico eu to pagando!", pensa enquanto vai para sua moto sob o olhar atento dos seguranças que estavam a uns metros. Sobe em sua moto e diz a si mesmo, com a fé de quem quer um milagre: "Ela vai ligar! Pegou o cartão...".